Turismo em Vitória-ES: roteiro no centro histórico – Parte 3

Cássia Araujo e Souza (Professora, Historiadora. Mestra em Educação)
Sany E. A. Souza (Turismóloga. MBA Marketing, Comunicação e Eventos)


CONVENTO DE SÃO FRANCISCO

Atendendo a solicitação de Vasco Fernandes Coutinho Filho, 2º Donatário da Capitania do Espírito Santo, o Convento de São Francisco foi contruído por padres franciscanos (Frei Antonio dos Mártires e Frei Antonio das Chagas). O convento é o primeiro dessa ordem , edificado na Região Sul do Brasil colonial.

Construído em 1591, ao longo dos tempos históricos, o convento serviu como abrigo para a Irmandade de São Benedito, atendendo a diversas outras funções, conforme requisição das autoridades civis, sendo por exemplo: orfanato, colégio e residência das Irmãs Carmelitas, cemitério público (especialmente após surto de cólera , em 1856) e foi até espaço de rádio. Atualmente suas instalações abrigam a Cúria Metropolitana da Igreja Católica.

Em termos arquitetônicos, o convento seguiu o estilo característico das obras jesuíticas, de linhas retas, sofrendo alterações entre os anos 1744 e 1784, a partir de reformas que descaracterizaram sua forma original. Preservando sua fachada ou frontispício, adaptou o restante para o colonial barroco. Essa fachada é a mais antiga construção dessa ordem na região sudeste.

Em reforma realizada em 2008, num processo de raspagem na parede da capela, foram encontrados ossos enterrados. Era prática comum do período colonial a crença de enterrar pessoas especiais bem próximos do altar, para garantir sua proximidade com Deus.

No local é possível acesso a:

  • painéis informativos sobre sua história, reformas e visitas de autoridades da Igreja Católica;
  • ossário, no pátio externo, como monumento aos franciscanos, construído nos anos 1920;
  • Capela de Nossa Senhora das Neves, utilizada como capela mortuária ao longo do século XIX, ano de sua construção;
  • sinalização de sítio encontrado com ossadas;
  • imagem de São Francisco de Assis, no pátio.

Curiosidades:

  • Em 1765 o convento chegou a abrigar 25 noviços;
  • A cozinha do convento foi uma das primeiras edificações de Vitória a receber água encanada, que descia pelo aqueduto que captava água das matas do morro da Fonte Grande;

A irmandade de São Benedito do São Francisco (caramurus) e a de São Benedito do Rosário (peroás) entraram em conflito pela disputa de uma imagem de São Benedito, em pleno século XVI. Essas irmandades compartilhavam a guarda da imagem de São Francisco. Com o desentendimento, a imagem original foi transferida permanentemente para os altares da Igreja do Rosário, ficando a encargo do artista Francisco das Chagas Coelho conrfeccionar outra imagem para o convento de São Francisco.

Entre 2012-13 o Convento de São Francisco passou por restauração e remodelação dasfachadas. Trata-se de um bem tombado (Resolução nº 2/1984 Livro do Tombo Histórico: Inscr. nº 76, folhas 8v e 9).

PARQUE MOSCOSO
Inaugurado em 1912, o Parque Moscoso é o mais antigo de Vitória, homenageando o presidente da província, Henrique Moscoso.
Nesse período a capital passou por muitas obras de aterramento, sendo responsabilidade do projetista Paulo Motta planejar elementos urbanos mais modernos para a cidade, como lagos, alamedas , parques, praças e jardins. A criação do Parque Moscoso foi responsável pela mudança de famílias nobres para a região da vila do Moscoso.

Desde sua construção o parque passou por diversas remodelações e utilidades. Enquanto parque já foi espaço para shows (na concha acústica, construída em 1952), moradia de micos saguis, pavões, jacarés, pista de kart, passeio de trenzinho e até pedalinho. Havia gaiolas, balanços de cavalinhos, castelo com escorregador.

Já foi jardim de infância e mais recentemente abrigou um espaço educacional de ciência e tecnologia.

Eu mesma, na infância estudei no PIEP (Parque Infantil Ernestina Pessoa), criado no mesmo ano da concha acústica. Depois a denominação mudou para JIEP (Jardim de Infância Ernestina Pessoa), no início da década de sessenta.

Lembro-me da doce processora Celisa, que nos ensinava a fazer gravuras multicores mergulhando folhas brancas em bandeja de tintas. Cada impressão, uma figura nova, personalíssima! E as gincanas? Lembro-me de assistir coleguinhas com 3-4 aninhos disputando quem enchia primeiro uma garrafa usando um pequeno canequinho… .

Em sua última reforma o parque foi transformado em uma pracinha, com árvores típicas da Mata Atlântica. Ganhou ainda um lago, com duas ilhas, para apreciação de peixes, patos e tartarugas. Mantem espaço para pequenos shows e playground.

Dentre os monumentos do local destacam-se o busco de Henrique Moscoso e a Fonte do Cavalo. Construída em 1910, trata-se de um antigo chafariz da Vila Moscoso. Sua construção demarca o fim das obras do aterro e o início da construção do próprio parque.

SANTA CASA DEMISERICÓRDIA
A Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (ISCMV) foi fundada no ano de 1545, no início da Colonização do Espírito Santo, pelo Compromisso de Lisboa. Trata-se de documento datado de 1498 no qual a Coroa Portuguesa, determinava a criação de Misericórdias nas províncias do Brasil Colonial.

Imagem https://santacasavitoria.org

A princípio tratava-se de uma Irmandade associativa beneficente e sem fins lucrativos, administrada pela Igreja Católica. Na Capitania do Espírito Santo a Santa Casa iniciou suas atividades na Prainha de Vila Velha, junto à Igreja do Rosário. Seu objetivo principal era a aplicação da caridade e promoção da saúde comunitária.

Na realidade a Santa Casa acompanha peraticamente toda a história do estado, fazendo-se presente em episódios fundamentais. Ela já estava em funcionamento durante o conflito entre portugueses e botocudos. A vitória portuguesa, e sua marcha até a ilha de Vitória, em 8 de Setembro de 1551 é marco principal da história capixaba.

Em 1605 a irmandade mudou-se para a Cidade Alta, em Vitória. Em 1759, quando aconteceu o banimento da Companhia de Jesus, os jesuítas estavam acomodados a poucos passos da Santa Casa, do outro lado da praça, no Colégio de São Tiago (hoje Palácio Anchieta) de onde foram expulsos.
O ano de 1860 marca a visita do Imperador Dom Pedro II à Santa Casa, cujo atendimento recebeu fartos elogios do imperador.

A comitiva que acompanhou o imperador fotografou Vitória a partir da entrada da Santa Casa. Imagem: https://santacasavitoria.org

 

Em suma, a Santa Casa acompanhou o processo de desenvolvimento do Espírito Santo, desde as primeiras lutas até a modernização da cidade, principalmente no auge do expansionismo da cidade de Vitória, a partir da criação da região do Parque Moscoso, para a onde as novas instalações passaram a funcionar, a partir de 1818.

1919: pandemia de gripe espanhola. Imagem: https://santacasavitoria.org

 

Durante o processo pandêmico de gripe espanhola, no ano de 1919, o único hospital existente para atendimento era a Santa Casa. Sendo assim as suas atividades de socorro médico foram cruciais naquele e em outros momentos marcantes da história da capitanbia e do Estado do Espírito Santo.

Falar da Santa Casa de Misericórdia é falar do pioneirismo em diversos aspectros da saúde no estado. Trata-se do primeiro hospital instalado no Espírito Santo. Em suas instalações aconteceu a primeira prática de divisão deenfermaria por sexo. Ali também deu início ao primeiro serviço funerário capixaba, o primeiro banco de leite, além de outras conquistas.

Hoje a Santa Casa compõe um grupo empresarial que engloba, o Hospital Santa Casa de Misericórdia de Vitória, a Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (Emescam), a Maternidade Pró-Matre, o Plano Santa Casa de Saúde, a Funerária Santa Casa Paz, o Centro de Habilidades e Simulação Realística Vitória Grand Tech, a Clínica de Fisioterapia Vitória Grand Fisio e o Centro de Eventos Vitória Grand Hall. Além da administração desse complexo, a Santa Casa ainda é administradora do SAMU.

MERCADO DA VILA RUBIM
Compreende-se que o Mercado da VIla Rubim é parte integrante da própria identidade do povo capixaba, uma vez que a Vila Rubim sempre expressou muito bem a rotina do seu povo. Assim, o mercado é muito mais do que sua mera utilidade prática, mas uma manifestação histórica e cultural muito forte, revelando a diversidade local.

O nome do bairro homenageia o governador Francisco Rubim. Esse espaço surgiu como ponto estratégico de ligação entre a ilha e o continente. Ali abarcavam mercadorias, enquanto não havia nem ponte e muito menos aterramento. Enquanto a capital se desenvolvia, ali era local obrigatório de passagem.

Em seus primórdios, no entorno da vila havia um amontoado de casebres, que abrigavam imigrantes oriundos do interior do Espírito Santo e mesmo de outros estados, principalmente a partir dos anos quarenta. Essas construções de palha, originaram a princípio o nome “cidade de palha” e, a partir do século XX, o local recebeu a denominação
de Vila Rubim.

A princípio, na década de 40 as mercadorias eram expostas ar livre, sendo instalados galpões na década de 70. Em 1994 o mercado sofreu um incêndio de grandes proporções, ficando conhecido como o maior na história do estado, resultado de armazenamento indevido de fogos de artifícios. A tragédia, além de vitimar 4 pessoas e ferir 34, destruiu lojas, boxes e veículos.

Recuperado e revitalizado, atualmente o espaço abriga estabelecimentos comerciais que comercializam uma variedade muite grande de produtos artesanais e ainda artigos de umbanda, pescados, ervas medicinais, secos e molhados, mercearias, bares, supermercado, artigos de pesca, casas pirotécnicas, peixarias, etc.

Uma realidade, talvez presente em todos os mercados de mesmo estilo, está a situação de pobreza, riscos e violência ao seu redor, somados à atuação de mendicância e prostituição. Com os cuidados necessários e a simpatia dos comerciaintes locais, é possível fazer visitas e compras com tranquilidade.

Vale destacar a presença constante de ambulantes informais nas proximidades do mercado, que comercializam especialmente produtos caseiros como queijos, manteiga de garrafa e temperos.

A dinâmica das relações sociais, interações comerciais de produtos e prestação de serviços no mercado se amplia, especialmente aos sábados e em vésperas de feriados.

 

Como citar esse Artigo:
SOUZA, Cássia Araujo e. SOUZA, Sany E. Araujo e. Turismo em Vitória-ES: roteiro no
centro histórico – Parte 3. Disponível em: . Acesso em: https://tourbr.com.br/turismo-em-vitoria-es-roteiro-no-centro-historico-parte-3/ 

 

Referências:
LOPES, Kleber Augusto. SANTOS, Luciana Dalarmelina. Mercado da Vila Rubim,Vitória. Disponível em:
http://observatoriogastronomico.senac.br/mercados_feiras/mercado-da-vila-rubim-vitoria/#:~:text=O%20Mercado%20da%20Vila%20Rubim,instalados%20na%20d%C3%A9cada%20de%2070.Acesso em: 23/03/23

O Mercado da Vila Rubim em 84 fotografias. Disponível em: https://www.seculodiario.com.br/cultura/o-mercado-da-vila-rubim-em-84-fotografias. Acesso em 23/03/23

RIBEIRO, Luciano. Mercado da Vila Rubim: transformações urbanas e processos de segregação socioespacial. Dissertação de Mestrado. 2022. Disponível em: https://repositorio.ifes.edu.br/handle/123456789/2431. Acesso em 23/03/23

Irmandade da Santa Casa de Misdericórdia de Vitória. Disponível em: https://santacasavitoria.org/irmandade/nossahistoria/#:~:text=A%20Irmandade%20da%20Santa%20Casa,cidade%20fundada%20no%20Brasil%20Colonial. Acesso em 12/02/23

Parque Moscoso – Vitória. Disponível em: http://www.terracapixaba.com/2009/12/parquemoscoso-vitoria.html. Acesso em 18/02/23

Parque Moscoso: 110 anos de muitas histórias. Disponível em: https://m.vitoria.es.gov.br/noticias/parque-moscoso-110-anos-de-muitas-historias-45246. Acesso 23/02/23

Vitória – Frontispício do Convento de São Francisco. Disponível em: http://www.ipatrimonio.org/vitoria-frontispicio-do-convento-de-saofrancisco/#!/map=38329&loc=-20.30085162741431,-40.3618597984314,13. Acesso em 02/03/23

Convento de São Francisco – Vitória. Disponível em: http://www.terracapixaba.com/2019/04/convento-de-sao-francisco.html. Acesso em 02/03/23