Projeto leva oftalmologistas e doa óculos de grau em escolas públicas do Paraná
Quase 70 mil crianças e adolescentes de 75 municípios serão atendidos
Crianças e adolescentes do Paraná vão enxergar melhor com a chegada do Programa Bons Olhos Paraná, do Governo do Estado, desenvolvido por meio da SEDEF (Secretaria de Estado do Desenvolvimento Social e Família) e do CEDCA (Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente). A execução do programa é de responsabilidade da Renovatio, organização que já atendeu mais de 500 mil pessoas e doou cerca de 120 mil pares de óculos em todo o Brasil.
O Bons Olhos Paraná vai chegar a 75 municípios do Estado, com a previsão de atender 67,1 mil pessoas. O público são estudantes do 1º ao 9º ano do ensino fundamental de escolas públicas municipais e estaduais. A Renovatio monta o parque oftalmológico nas unidades escolares, com equipamentos para exames especializados, consultórios com médicos oftalmologistas e uma ótica onde os alunos escolhem as armações. Os óculos são entregues na própria escola. Tudo é feito no turno da aula dos estudantes e sem custo para as famílias.
Uma carreta com mais de 100 metros quadrados de consultórios e salas de exames, além de ônibus equipados também levam atendimento às escolas. Em menos de um mês, o Bons Olhos Paraná já atendeu mais de 13 mil alunos e doou 222 pares de óculos, após a realização de 2.553 consultas oftalmológicas.
O secretário de Desenvolvimento Social e Família (SEDEF), Rogério Carboni, lembrou que o Governo do Estado está investindo cerca de R$ 5,5 milhões para oferecer um serviço completo de saúde ocular para os estudantes. “Além de realizar exames, serão distribuídos gratuitamente mais de 10 mil óculos em todo o Paraná. O programa não só ajuda no aprendizado, mas também atua na prevenção da cegueira infantil e de baixa visão. Em até 30 dias úteis após o exame, o estudante já terá os óculos. Se forem identificadas anomalias ou outras doenças, elas serão encaminhadas para a rede estadual de saúde para o tratamento adequado”, explicou.
Saúde visual e educação têm tudo a ver. Dados levantados pelo programa Alfabetização Solidária dão conta de que 22,9% da evasão escolar ocorrem por causa de problemas de visão não detectados e não corrigidos. O estudante não enxerga bem, tem dificuldade para acompanhar sua turma na sala de aula e perde o interesse pelos estudos. Um par de óculos, muitas vezes, significa futuro.
A falta de correção pode ter reflexos durante toda a vida. Segundo estimativa da IAPB (Agência Internacional de Prevenção à Cegueira), em estudo sobre o peso dos problemas oculares não corrigidos na renda de uma pessoa, aqueles que têm dificuldade para enxergar e não acessam os óculos aprendem 50% menos do que os seus colegas. Esses estudantes, quando adultos, terão uma renda 78% menor por causa da falta das lentes corretivas.
A dificuldade de acesso a oftalmologistas e a óculos pode ser explicada, entre outros motivos, pela falta desses profissionais em algumas regiões. Em 2023, o estudo Condições de Saúde Ocular no Brasil, feito pelo CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia), apontou que médicos com essa especialidade estão presentes em apenas 29% dos mais de 5,5 mil municípios do Brasil. Por outro lado, a demanda é alta. A oftalmologia foi a especialidade que mais teve consultas agendadas no SUS no mesmo ano, segundo o Sisreg (Sistema de regulação) do Ministério da Saúde.
O tempo de espera para uma consulta oftalmológica na rede pública foi de 83 dias naquele período. A maior parte da demanda, cerca de 84%, diz o CBO, é para a correção de erros de refração (miopia, hipermetropia, presbiopia e astigmatismo), cuja solução é o uso de óculos. Mas nem sempre as famílias podem custeá-los.
A Renovatio é uma organização sem fins lucrativos que há dez anos trabalha para democratizar o acesso à saúde visual. Já chegou a 25 estados e ao Distrito Federal e, por onde passa, semeia inclusão e colabora com o enfrentamento às desigualdades sociais, que afastam os mais vulneráveis da boa visão. Uma das sedes da organização no país fica em Maringá. Outra, em São Paulo.