LAPA PODE SER RECONHECIDA PELA UNESCO? REQUALIFICAÇÃO URBANA ENTRA NA PAUTA ESTRATÉGICA DO COMTUR-LAPA PARA 2026
A histórica cidade da Lapa volta ao centro de um debate essencial para o seu futuro. Está prevista para a pauta de 2026 do COMTUR-Lapa a discussão de uma proposta estruturante: a elaboração de um Plano de Requalificação Urbana para o Centro Histórico, a ser apresentado ao Executivo Municipal e amplamente debatido com a população.
A iniciativa parte de um entendimento claro: patrimônio histórico não se sustenta apenas pelo título, mas pela forma como é cuidado, gerido e integrado à vida contemporânea da cidade. O plano terá caráter preliminar, mas com ambição técnica suficiente para abrir diálogo público, receber contribuições da sociedade e, sobretudo, dotar o município de um projeto executivo, condição fundamental para futuras captações de recursos e implementação efetiva.
Articulação institucional e responsabilidade compartilhada
O COMTUR propõe que a construção do plano ocorra de forma articulada, envolvendo o IPHAN-PR, a Secretaria de Estado da Cultura e os diversos órgãos da Prefeitura Municipal da Lapa. O foco é claro: proteção e valorização do patrimônio cultural edificado e urbano, respeitando o tombamento existente e qualificando os espaços públicos.
O projeto pretende abranger aspectos de desenho urbano, mobiliário urbano, paisagismo, mobilidade, acessibilidade e iluminação, sempre com critério técnico e sensibilidade histórica.
Diretrizes que dialogam com cidades históricas bem-sucedidas
Entre os pontos que o Plano de Requalificação Urbana pretende contemplar, destacam-se:
•Limitação do tráfego pesado no Centro Histórico, reduzindo impactos estruturais e visuais;
•Criação de tipologias viárias, com definição clara de vias com estacionamento, sem estacionamento, vias exclusivas para pedestres e ciclofaixas, melhorando a mobilidade e a experiência urbana;
•Reorganização das vagas de estacionamento, garantindo melhor aproveitamento do espaço sem comprometer a visibilidade de imóveis e espaços tombados;
•Adequação dos passeios às normas de acessibilidade, assegurando inclusão sem agressão ao conjunto histórico;
•Padronização do calçamento, respeitando os materiais e soluções já consolidadas no local;
•Nova proposta de iluminação pública e iluminação cênica, com destaque especial para sete imóveis tombados;
•Definição criteriosa de mobiliário urbano, evitando soluções dissonantes que distorçam o cenário histórico.
Na minha avaliação, esse conjunto de diretrizes não é luxo, é dever de casa. Cidades históricas que avançaram no turismo cultural e no reconhecimento internacional passaram exatamente por esse tipo de enfrentamento técnico e político.
Tombamento se preserva — e pode se perder
Para o presidente do COMTUR-Lapa, Márcio Assad, a proposta não é novidade, mas agora se torna inadiável. Ele lembra que a Lapa conquistou o tombamento histórico em dois níveis, resultado de décadas de luta e reconhecimento, mas alerta: esse status não é eterno se não for respeitado.
Assad destaca a existência de uma medida extrema chamada “destombamento”, algo considerado desonroso para qualquer localidade. “Não é isso que queremos. Pelo contrário, precisamos fortalecer o que já temos”, afirma.
E a UNESCO? Um horizonte possível
É nesse contexto que surge a pergunta que provoca e mobiliza: a Lapa pode ser reconhecida pela UNESCO?
A resposta, com responsabilidade, é: sim, é possível — mas não é automático. A UNESCO reconhece locais que possuem Valor Universal Excepcional, ou seja, bens culturais ou naturais que são importantes para toda a humanidade, seja como testemunho de uma civilização, de um período histórico, por sua arquitetura singular, ou por suas tradições vivas.
A Lapa reúne atributos históricos, urbanos e simbólicos relevantes. No entanto, o reconhecimento internacional exige gestão qualificada, integridade urbana, coerência estética e políticas públicas consistentes. Sem isso, não há chancela que se sustente.
“Podemos, sim, buscar esse galardão. Ele nos daria o reconhecimento merecido”, finaliza Assad. Concordo. Mas esse reconhecimento começa aqui, com planejamento sério, escolhas responsáveis e respeito ao patrimônio.
Se a Lapa quer ser vista pelo mundo, precisa primeiro cuidar de si mesma. O Plano de Requalificação Urbana é um passo decisivo nessa direção.

