Está aberta a temporada “insana” de turismo de verão na Europa

Desde a década de 1970, Steve Perillo, CEO e proprietário da operadora de viagens Perillo Tours, de Nova Jersey, não via um aumento tão expressivo nas reservas para a Europa.
A empresa, conhecida por seus pacotes personalizados para a Itália, geralmente vende cerca de 80% do total de passeios disponíveis a cada temporada. Neste ano, até agora, 96% dos 500 pacotes anuais da operadora já têm dono. Os destinos incluem também Espanha e Grécia.
A expectativa de Perillo é chegar nos 100% nas próximas semanas, antes do início das vendas da temporada 2024.
Para o empresário, as pistas de que essa será uma temporada de sucesso começaram a surgir ainda no segundo semestre do ano passado, quando a empresa ofereceu um desconto na Black Friday de cerca de 5%.
“Deveríamos ter cobrado mais pela Black Friday”, brinca. “Foi quando percebemos que a demanda era absurda, e liguei para todos os meus amigos na noite da Black Friday e disse que seria uma loucura”, lembra.
Em muitas partes da Europa, a loucura já está em andamento, com turistas chegando aos países e seguindo os passos dos seus antecessores de 2022, os pioneiros após os bloqueios causados pela pandemia.

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De acordo com a operadora de seguros de viagem Allianz Partners, o número de americanos que viajam para a Europa neste verão deverá subir 55% em relação aos números do ano passado – que já foram impressionantes 600% mais altos do que em 2021. Londres, Paris e Dublin lideraram a lista de 2023 dos dez destinos mais populares revelados pela revisão anual da Allianz; Roma, Reykjavik, Amsterdã e Lisboa também estão entre os 10 favoritos.
A Comissão Europeia de Turismo também previu uma forte procura de férias europeias em 2023, com quase metade de todos os destinos do continente esperando um retorno para mais de 80% dos números de 2019.
É claro que toda essa demanda elevou os preços. De acordo com o site de rastreamento de voos Hopper, as passagens aéreas dos EUA para a Europa estão nos maiores preços dos últimos cinco anos. Os bilhetes de ida e volta para o continente têm atualmente uma média de mais de US$ 1,2 mil (cerca de R$ 5,85 mil), o que é aproximadamente US$ 300 (ou cerca de R$ 1,46 mil) acima de 2022 (e um salto de 26% em relação aos preços pré-pandemia em 2019), de acordo com um porta-voz da empresa.
As diárias em hotéis também subiram. De acordo com a American Express Global Business Travel (AEGBT), os preços dos hotéis na Europa irão sofrer os maiores aumentos durante 2023. Paris (aumento de 10% em relação ao ano anterior), Estocolmo (9%) e Dublin (8,5%) estão entre os destinos que a AEGBT previu para ver os maiores aumentos.
No entanto, a alta não diminuiu a vontade geral de viajar. Durante semanas, muitos centros europeus foram inundados de turistas, e hotéis esgotados, museus lotados e restaurantes sem espaço são cada vez mais comuns, especialmente em cidades sob demanda como Barcelona, Roma e Paris.
A grande surpresa é que estação das multidões começou muito cedo. “Só de olhar pela janela já parece julho”, diz Milou Halbesma, diretora do Museu da Casa de Rembrandt em Amsterdã, localizado no lar do mestre holandês.
Nesta primavera europeia, o museu revelou uma grande renovação que abriu o espaço do sótão ao público, oferecendo “30% mais Rembrandt” aos visitantes do museu. Em antecipação ao “verão muito movimentado”, o museu trouxe cinco funcionários extras para julho e agosto e adicionou novos serviços para visitantes, incluindo um tour multimídia disponível em 13 idiomas e um tour específico para crianças.
Como um todo, a cena cultural de Amsterdã está desfrutando de um momento nos holofotes após o sucesso espetacular da exposição Vermeer do Rijksmuseum. Os entusiastas da arte e os frequentadores de museus são um grupo de turistas especialmente procurado pelas autoridades da cidade em meio a campanhas contínuas para reduzir o “turismo incômodo”, como aquele que envolve festas de despedida de solteiro e solteira.
“Ficamos muito felizes em receber todos, e também esperamos que haja mais turistas culturais e menos festas de solteiros e grupos como esses”, diz Halbesma. “O povo de Amsterdã é o mais agradável, tolerante e relaxado do mundo. Mas [turistas ruidosos] devem se comportar um pouco”.
Enquanto isso, em outros destinos em todo o continente, programas populares como “The White Lotus” da HBO e “Emily em Paris” da Netflix também levam hordas de fãs de tirar selfies nas locações. De acordo com dados da Expedia, as pesquisas de voos para cidades da Sicília – a ilha idílica onde a segunda temporada do “The White Lotus” foi filmada – aumentaram em três dígitos este verão. As buscas para Messina subiram 335% e Palermo, 180%.
Alguns lugares têm recebido multidões de nível de alta temporada mesmo antes do verão. / Marc Bruxelle/Alamy Stock Photo
Jenn Rice, jornalista e consultora de marca baseada na Carolina do Norte, testemunhou essa popularidade em primeira mão em uma recente viagem a Palermo. Rice descreveu a capital siciliana como “absolutamente insana” no início de junho, com turistas “tomando as ruas como se fosse Mardi Gras”, referindo-se ao famoso Carnaval de rua de New Orleans.
“Eu nunca tinha visto tanta gente assim nas ruas num sábado à noite”, conta Rice, que está viajando pela Europa por três meses pelo segundo verão consecutivo. “Mal dava para andar na rua para chegar a outro bar. As pessoas pareciam sardinhas, embaladas em todos os lugares”.
Atrações, marcos e eventos tradicionalmente populares também estão sentindo a onda. Perillo diz que ouviu relatos sobre guias turísticos em Roma tendo que ligar até uma determinada data apenas para tentar garantir reservas para o Coliseu. “As pessoas começam a fazer fila na chamada à meia-noite apenas para ter uma chance”, diz. “Todo mundo que vai a Roma quer ir ao Coliseu”.
“Mal dava para andar na rua para chegar a outro bar. As pessoas pareciam sardinhas, embaladas em todos os lugares”. Jenn Rice
Em Paris, Arnaud Morandi, gerente geral do Fauchon L’Hôtel Paris, um hotel boutique de cinco estrelas com 54 quartos, diz que os visitantes que esperam obter bilhetes de última hora para eventos como o torneio de Roland Garros, grandes concertos ou reservas em restaurantes sob demanda devem baixar as expectativas.
“Parece que tudo se esgotou muito rapidamente”, afirma Morandi. “Tudo que lida com lazer, incluindo restaurantes finos e hotéis de luxo, é reservado com antecedência, muito mais cedo do que antes”.
Aberto em 2018, o Fauchon continua batendo recordes de ocupação, com vários dias sem vagas para junho, julho e agosto. “A cidade não está tão movimentada quanto será em algumas semanas, mas estamos quase lá”, diz Morandi.
Para lidar com as multidões recorde e os custos mais elevados da temporada, muitos viajantes com destino à Europa foram forçados a ajustar os seus planos. Rice, por exemplo, está usando trens e balsas para evitar custos de voo “insanamente caros”, mesmo em companhias aéreas de baixo orçamento, como easyJet e Ryanair.
Os residentes europeus também estão sentindo o peso de seus próprios planos de férias de verão. Sarah Ferguson, que saiu do sul da Flórida em abril de 2021 com o marido e quatro filhos e se mudou para Amsterdã, ainda não voltou para os Estados Unidos com sua família porque o custo de seis passagens aéreas “não vale a pena, então só dizemos a todos para vir aqui”, explica.
Mas viajar pela Europa – um grande incentivo para a mudança da família para o continente em primeiro lugar – tornou-se cada vez mais proibitivo. As passagens de trem, um meio de transporte que Ferguson e o marido queriam usar mais, são muitas vezes mais caros do que as aéreas.
“Antes de nos mudarmos, tivemos essa ideia de mostrar aos nossos filhos esses países incríveis em viagens fabulosas de trem, para as quais todos iam aprender só como fazer a mala e embarcar”, conta a americana. “Infelizmente, não foi o caso. Ao longo desses dois anos, os nossos amigos expatriados falam o tempo todo sobre como as passagens de trem são mais caras que as de avião. É ridículo”.
Como resultado, a família mudou os planos para férias e adotou o carro como meio. Ferguson alugou dois híbridos Toyota Corolla para fazer uma viagem de 15 horas em agosto para um camping na Croácia, que eles visitaram no ano passado e onde ficarão em uma villa à beira-mar desta vez. “Fizemos a viagem no ano passado, e é lindo”, diz ela. “A gente só precisa ser criativo”.
A autora Pola Henderson, que tem dupla cidadania (EUA e Polônia) e vive em Paris há sete anos, também mudou a forma como viaja pela Europa. Até recentemente, Henderson, que escreve sobre viagens, costumava fazer uma ou duas viagens de fim de semana para diferentes países todos os meses. Mas ela vai ficar mais perto de casa neste verão, com viagens de fim de semana pela França e mais exploração da própria Paris.
“Não consigo imaginar viver sem viajar, mas agora sou mais exigente sobre o que faço”, explica Henderson. “Tem sido muito frustrante porque viajar ficou muito mais difícil, não apenas em termos de preços, mas também temos que planejar muito antes do tempo”.
O tempo dirá se mais frustrações estão no caminho de viajantes em termos do caos de cancelamentos de voos, atrasos e outras interrupções da última temporada. Até agora, alguns percalços já surgiram, incluindo protestos contínuos em Paris, greves de funcionários e elenco na Disneyland Paris no início de junho e uma falha de scanners de passaporte em Heathrow e outros aeroportos do Reino Unido durante um fim de semana de feriado prolongado em maio. No entanto, o clima predominante entre muitos viajantes parece ser um híbrido de emoção e uma atitude de “carpe diem” – mesmo nos lugares mais cheios.
“Não dá para evitar esses lugares só porque estão lotados”, diz Rice. “Tudo está cheio agora, então basta ser um pouco mais inteligente e fazer mais pesquisas. Mas, o mais importante é fazer e ver o que você quer, e não o que todo mundo está falando. Eu coloquei Veneza na lista de ‘não dá para visitar, cheio demais’ durante anos, mas agora eu vou”.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Está aberta a temporada “insana” de turismo de verão na Europa no site CNN Brasil.

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